segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Síntese/Relatório de aula – 17/ 01/ 2017 - Apresentação dia 24/01/2017


Autoras: Ana Gabriella Guedes e Raiane Sousa


    A aula foi iniciada com a apresentação do relatório feito pela a equipe das alunas: Laíse, Laíz, Mariana e Ramona, que relataram a aula anterior. Após a leitura feita pela equipe, foi iniciada uma atividade em grupo em que foi trabalhado o assunto ‘’ Ensino com pesquisa ‘’. Cada equipe trabalhou um texto, com o objetivo de separar os pontos principais, fazer uma síntese e apresentar o que foi compreendido sobre o assunto abordado no texto para os demais.
     A atividade em grupo foi considerada como um estudo de painel, quando o estudo é compreendido a partir da concepção de outros. Cada painel (equipe) teve um panelista (um apresentador) para representar sua equipe. Seguindo esse formato, as equipes escolheram seus panelistas para apresentar o que foi estudado e discutido em grupo com direito a debate dos demais.
    Os textos trabalhados foram os seguintes: Trabalhando com projetos; Projeto de Trabalho; Experiência e Competência no Ensino: pistas de reflexões sobre a natureza do saber – ensinar na perspectiva da ergonomia do trabalho docente. Os pontos principais desses textos foram discutidos a partir da percepção de cada equipe. Foram debatidos assuntos envolvendo trabalho profissional, a importância do conhecimento em que os professores devem obter sobre trabalhar com projetos, mesmo em que a escola ou instituição onde trabalha, não ofereça recursos; Projetos de trabalho foi outro assunto abordado, os métodos utilizados, o que o aluno aprende com os projetos e o que eles proporcionam; A reflexão da compreensão do ‘’ ensinar ‘’ e o ensino com pesquisa na concepção dos autores Jacques Therrrien e Francisco Antônio Loiola.
    Após aos estudos de painel (atividade em grupo), a aula seguiu com os mesmos assuntos relacionados aos textos, mas explicado pela professora, através de slides. Nos slides foram apresentadas as definições de escola, professor e aluno. A escola trata-se de um ambiente inovador, onde os alunos e professores são gestores de conhecimentos; O professor é o investigador,
mediador crítico e protagonista do processo de aprendizagem, educação e disciplina dos seus alunos, além de produzir o seu próprio conhecimento; O aluno é o sujeito do processo que, será avaliado, podendo ser de forma contínua, processual ou participativa.
    A aula nos trouxe conhecimentos enriquecedores, com definições de grande importância para a nossa melhor compreensão sobre como funciona algumas medidas aplicadas pelo professor, do papel de cada sujeito que constrói o contexto educacional, da relevância de trabalhar com projetos, além da atividade realizada em sala, em que trabalhamos em forma de estudos de painel e tivemos a oportunidade de empenhar-se nos estudos dos textos de uma forma coletiva, concentrada e reflexiva.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Síntese de aula 10/01/17 - Apresentação em 17/01/17

Autoras: Ana Laíse, Laíz Carvalho, Mariana Muniz, Ramona Sousa.

A aula foi iniciada com o relato da aula anterior (03/01) pela aluna Ana Paula, em que tivemos a apresentação das últimas equipes das mini-aulas e a socialização do 2º momento do estágio observação com a turma.
Após esse momento, foi proposto que a turma elaborasse Mapas Conceituais em equipes para o estudo dos dois textos que seriam trabalhados: “IDENTIDADE PROFISSIONAL” – Autora: Marina Cavalcante e “DOCÊNCIA E PROFISSÃO” – Autora: Socorro Lucena. Para a construção desse Mapa Conceitual, a professora nos explicou o que seria, qual a sua finalidade, qual a forma de fazê-lo e quais os seus respectivos objetivos.
O Mapa Conceitual é uma ferramenta para organizar e representar o conhecimento e é um recurso utilizado para apresentar graficamente as relações significativas entre os conceitos de um determinado assunto. O tipo de linguagem usada no mapa tem que descrever e comunicar e é preciso que os conceitos a serem trabalhados estejam sintetizados. Esses conceitos devem estar ordenados, hierarquizados e conectados, possibilitando uma compreensão das pessoas sobre aquilo que o mapa está representando e geralmente eles aparecem em caixas e a relação de significado entre os termos é indicada por uma linha que os une. Vimos também que podemos fazer uso de conectivos entre as ideias para proporcionar uma compreensão maior.
Nos slides foram passados alguns exemplos de mapas conceituais e vimos que existem vários tipos. Para começar um mapa conceitual é necessário que se responda: o que é, de onde vem, do que é composto, o que fazemos com, entre outros.
Após a explicação sobre o que é um mapa conceitual e como fazê-lo, nos reunimos em 5 grupos para a elaboração do mesmo, fazendo uso dos dois textos da aula. Três equipes ficaram com o texto “DOCÊNCIA E PROFISSÃO” e as outras duas equipes com o texto “IDENTIDADE PROFISSIONAL”. Em seguida as equipes apresentarem os seus mapas e a professora contribui com algumas ideias e reflexões para uma melhor elaboração do mapa e o professor Amilton também deu suas contribuições indicando algumas leituras de livros tratando da formação docente e leituras para um maior enriquecimento de conhecimentos.
Foi uma experiência boa, pois a partir do que tínhamos visto nos slides e na explicação da professora sobre o assunto foi possível colocarmos em prática e elaborarmos um mapa conceitual com a nossa compreensão da leitura dos textos.
Depois das apresentações a professora passou alguns slides sobre o texto “IDENTIDADE PROFISSIONAL” destacando alguns pontos: o que é, como é construída, de que é constituída essa identidade profissional. Vimos que para compreender a identidade profissional deve-se considerar que ela se constrói e se desloca historicamente em uma dimensão social e pessoal que incorpora vários elementos subjetivos.
A identidade profissional se constitui com base na significação social da profissão, na forma que cada professor confere à atividade docente no seu cotidiano, envolvendo sua história de vida, sua forma de se situar no mundo, suas representações e relações com os outros.

A aula foi muita significativa para nós e com certeza irá nos ajudar futuramente para uma melhor prática pedagógica. Como o professor Amilton foi comentando, o estudo dessas teorias, desses aspectos da docência, da profissão vistas na Universidade são de grande importância para nós como futuros professores, pois a partir delas construímos um caminho de conhecimentos que nos levam a uma melhor compreensão de mundo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Texto Complementar (para próxima aula - 17/01/17) - Projeto de Trabalho

1Projeto de Trabalho 
Autoras: Maria de Jesus Oliveira e Maria Marina Dias Cavalcante.

No decorrer dos estudos que fizemos até o momento, é recorrente nossa preocupação com um processo metodológico que envolva o aluno na construção de uma aprendizagem significativa e, por conseguinte, promotora de sua maior integração na vida social e produtiva de sua comunidade e região.
Uma proposta metodológica rica em atividades diversificadas, experimentações, trocas de vivências pessoais, que assegurem a articulação dos conteúdos (conceituais, procedimentais e atitudinais) trabalhados em sala de aula com a vida e o trabalho, de modo a contribuir para que nossos alunos construam saberes e sua própria identidade, fazendo assim, sua história.
Nessa busca, vamos aprender mais um caminho possível para a concretização desse propósito. Estamos falando da prática educativa desenvolvida a partir de Projeto de Trabalho. Uma prática que propicia a organização das atividades de ensino e aprendizagem de modo flexível e com vivências alicerçadas na vida social e profissional do aluno, abertas às diferentes relação com o ato educativo formal e informal.
Permite, também, que o aluno viva a experiência positiva de projetar-se no tempo através do planejamento de suas ações e de seus aprendizados, assumir responsabilidades e não depender somente do professor; fazer escolhas e comprometer-se com elas, além de confrontar-se com outros; de exercitar a solidariedade; de ter oportunidade de ser agente de suas aprendizagens e ao mesmo tempo produzir conhecimentos e práticas que têm sentido para sua vida.
Desse modo, o Projeto de Trabalho sintonizando o cotidiano escolar e o currículo com as grandes preocupações sociais contemporâneas possibilita re-significar o espaço-tempo escolar, transformando-o em um lugar vivo de interações, aberto ao real e as suas múltiplas dimensões.
Esta discussão nos remonta a contextos educativos (escolas e universidades) não atuais. Surgiu como uma das contribuições de John Dewey a partir de seu entendimento no qual a escola é o Centro de Educação que deveria preparar os alunos para resolução de problemas com que se deparavam no ambiente social. (ALLARCÃO 1996p.43) Tais idéias foram amplamente divulgadas no Brasil, por Lourenço Filho, em meados da década de 1920, contrapondo-se aos métodos utilizados pela escola tradicional.
A temática foi retomada nas décadas finais do século XX, momento em que se buscavam alternativas para ressignificação dos currículos escolares e de seus reflexos sobre a formação dos sujeitos (HERNANDEZ, 1998), numa tentativa de rompimento com práticas que fragmentavam os conhecimentos e a apreensão da realidade.
Nesse sentido, a transgressão em organização de projetos de trabalho surge como possibilidade de e Mudança na Educação como afirma também (HERNANDEZ 1998) numa tentativa de superação desta visão fragmentária de conhecimento, e por conseqüência de homem, sustentando-se na compreensão de aprendizagem como um processo global, em que teoria e prática são indissociáveis. De acordo com BEHRENS (2006)
(...) o projeto tem a finalidade de circunscrever a visão do todo envolvendo o processo de investigação decorrente da problematização precisa enfatizar a necessidade da proposição de atitude transdisciplinar. Afinal o projeto tem a função de canalizar energias para investigar possíveis respostas para um determinado problema e esse problema não está isolado em uma única disciplina. (p35)


Todos os alunos, em seus diferentes segmentos, são capazes de trabalhar com esta metodologia, bastando que se faça as devidas adequações ao nível de cada turma, mesmo que nela existam alunos que ainda não consigam ler bem, podendo, com o auxílio dos colegas e professor, participar das atividades para ele planejado.
Hernández (1998) chama Projeto de trabalho o enfoque integrador da construção de conhecimento que transgride o formato da educação tradicional de transmissão de saberes compartimentados e selecionados pelo/a professor/a e reforça que o projeto não é uma metodologia, mas uma forma de refletir sobre a escola e sua função. Como tal, sempre será diferente em cada contexto. Há um conceito de educação que permeia esta modalidade de ensino que entende a função da aprendizagem como desenvolvimento da compreensão que se constrói a partir de uma produção ativa de significados e do entendimento daquilo que pesquisam, identificando diferentes fatos, buscando explicações, formulando hipóteses enfim, confrontando dados para poder realizar.
Cabe ressaltar algumas particularidades dos projetos de trabalho para que possamos compreendê-lo como uma atividade complexa, capaz de superar uma visão fragmentada de conhecimento (HERNANDEZ, 1998, p. 78):


  1. O desenvolvimento de um projeto não é linear, nem previsível;
  2. Não se repete; uma vez que a experiência com cada turma de alunos é única;
  3. Questiona a ideia de que se deve ensinar das partes para o todo, e que, com o tempo, o aluno estabelecerá relações.
Os alunos, dessa forma, aprendem ao fazer relações e conexões entre os conhecimentos e conteúdos, ao intervirem no espaço escolar, ao problematizarem a realidade e elaborar diferentes estratégias de investigação e ao agir de forma ativa e autônoma diante das situações-problema.
Nesse sentido, surge como possibilidade de desenvolvimento da autonomia de alunos-professores e como espaço de construção do conhecimento, uma vez que proporciona a reflexão crítica sobre a prática e a transformação da mesma.
Os projetos de trabalho, associados às outras características citadas por Hernandez (1998, p. 82) podem desenvolver posturas formativas necessárias à vida:


  1. Percurso por um tema-problema. Dentro da área específica no qual poderão pensar um tema específico que deverá ser trabalhado no grupo. Os mecanismos de planejamento, organização de material, metodologia a serem utilizadas serão decididas pelo grupo.
  2. Atitude de cooperação. O professor e os alunos assumem a postura de aprendizes desse trabalho, cujas atividades não podem ser desenvolvidas isoladamente, tendo a marca do trabalho coletivo.
  3. Procura estabelecer e questionar a ideia única de realidade. Os conhecimentos trabalhados deverão ser aprofundados e discutidos, de forma crítica e reflexiva, fazendo, em todos os momentos, a ligação com a prática, entre o escrito e o vivido.
  4. Cada percurso é singular. O grupo tem sua maneira específica de caminhar e resolver seus problemas. Desse modo, cada projeto terá sua forma única de conduzir seus trabalhos.
  5. Diferentes formas de aprender. O trabalho no projeto deverá ser alternativo, criativo, envolvendo as diferentes formas de aprender e de ensinar.
  6. Uma aproximação atualizada dos problemas e das disciplinas e saberes. É preciso ter propostas de ensino-aprendizagem que fujam dos padrões comumente utilizados no cotidiano. Dessa forma os problemas de cada área específica do conhecimento e as dificuldades dos alunos serão evidenciadas.
  7. Leva-se em conta o fato de que todos os alunos podem aprender. A postura metodológica que trabalha o conhecimento aproveitando diferentes meios, de ensino e pesquisa, tem como base a crença de que os alunos são capazes de aprender uns com os outros, crescendo no coletivo. Aprendem ainda os estagiários e os professores formadores.


As posturas formativas acima indicadas podem colaborar para a ressignificação das práticas escolares em Educação. O trabalho colaborativo proporcionado pelo desenvolvimento dos projetos possibilita a valorização dos conhecimentos e da experiência de todos os sujeitos que nele se envolvem, além do estabelecimento de um novo tipo de relações na Escola.
Na história da educação a prática de Projetos de Trabalho, remonta à leitura de clássicos como Dewey, Decroly, Freinet e Kilpatrick que já sinalizavam para a realização de atividades educativas vinculadas ao mundo real, pretendendo romper com a desarticulação entre os conhecimentos escolares e a vida, com a estrutura rígida e fragmentada do modelo educativo predominante em sua época, e outras características da pedagogia tradicional.
Decroly (1871 – 1932) se destacou com a criação dos Centros de Interesse, como é conhecido atualmente. Seu método de trabalho rompeu com a rigidez dos programas de ensino de seu tempo e espaço.
A concepção didática do Centro de Interesse apoiava-se, em linhas gerais, num duplo ponto de partida psicopedagógica. Por um lado, destacava o princípio da aprendizagem por descoberta, que estabelece uma atitude positiva para a aprendizagem do aluno. Por outro, outorgava ao aluno o direito e a decisão sobre o que se deve aprender.
Para seu autor, o Centro de Interesse partia da necessidade do aluno em relação ao conhecimento a ser estudado em colaboração com o professor. Portanto, o ambiente de estudo (a sala de aula) transpunha as quatro paredes da classe. A criatividade e autonomia do aprendiz eram exercidas sem pressão ou normas coercitivas em etapas da atividade que se dividiam em observação (seleção do tema a partir do interesse do aluno), associação (ligado ao conhecimento prévio) e expressão (construção do novo esquema mental / conhecimento / aprendizagem), trabalhadas de forma associada.
Não podemos, também, deixar de mencionar as contribuições de Kilpatrick, em 1918, com sua proposta de “Métodos de Projetos”. Sua intenção era transformar o currículo de cada curso em conjunto de “projetos”. Seu princípio fundamental era trabalhar na sala de aula o que se faz continuamente no ambiente natural em que se vive. O saber tratado na sala de aula passa a ser o mesmo utilizado na vida real. Na proposta de Método de Projetos desse educador deveria ser observadas quatro fases: decidir a finalidade; elaborar o plano; executar o plano e avaliar o desenvolvimento.
É muito importante ressaltar que apesar da preocupação desses estudiosos em trazer para a sala de aula os interesses dos alunos, as questões sócio-políticas nas quais se encontravam inseridos não eram problematizadas, com vistas a sua transformação.
A esses estudos somaram-se muitas outras contribuições, em especial, as advindas das linhas educacionais da década de 80 até nossos dias, com destaque para a visão construtivista sobre aprendizagem e a pesquisa sociocultural, trazendo o imperativo da problematização do contexto sócio-político, da participação, e da interação no ensinar e no aprender.
Na acepção de Hernández (2003), os projetos de trabalho tornaram-se nesses últimos anos uma das alternativas mais viáveis para as necessidades de aprendizagens do educando. Por outro lado, o autor nos alerta que “não podemos depositar nos projetos de trabalho a responsabilidade de ser a solução para os problemas da instituição escolar nem, muito menos, para tudo o que a sociedade deposita na escola” (1998:27). Sua concepção pedagógica dá ênfase na contextualização histórico-metodológica, entendida como um processo de interação social, e na qual as relações entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar significante para resolver uma série de problemas de aprendizagem.
Com essas considerações acerca dos projetos de trabalho, o professor planeja sua intervenção e organiza o desenvolvimento do seu projeto de trabalho Hernández aponta como possíveis etapas:
  • determinar com o grupo a temática a ser estudada e princípios norteadores;
  • definir etapas: planejar e organizar as ações - divisão dos grupos, definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos e delimitação do tempo de duração;
  • socializar periodicamente os resultados obtidos nas investigações (identificação de conhecimentos construídos);
  • estabelecer com o grupo os critérios de avaliação;
  • avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários;
  • fazer o fechamento do projeto propondo uma produção final, como elaboração de um livro, apresentação de um vídeo, uma cena de teatro ou uma exposição que dê visibilidade a todo processo vivenciado e possa servir de foco para um outro projeto educativo;

Esta forma de organização de saberes que vai se construindo como uma rede, sensibiliza alunos e alunas para aquilo que lhes interessa ou preocupa, legitimando a função social da escola. Possibilita a validade do conhecimento aprendido, resultando numa melhor decisão para a qualidade de vida na sociedade e reconhece o sujeito cidadão, capaz de se inserir no pensamento coletivo para o compartilhamento de espaços e serviços comuns.
Incluir o aluno na análise e na decisão, de questões que lhe dizem respeito, contribui para o desenvolvimento consciente de sua cidadania. A escola, em particular, é o lugar para oportunizar este tipo de aprendizagem: o exercício da tomada de decisões, tanto individuais como coletivas. Ao refletir sobre suas próprias concepções, frente às de outros, o aluno amplia seu repertório de alternativas para uma determinada situação e provoca a desestabilização de seus critérios de inserção na coletividade.
O/a professor/a frente aos projetos: o que fazer?.
  • é pesquisador da realidade e conduz os alunos/as ao exercício da observação, percepção, análise crítica e criatividade;
  • compreende sua responsabilidade social e investe na interação;
  • sabe como se constrói conhecimento e planeja levando em conta o aluno real;
  • avalia permanentemente sua prática e a modifica;
  • é comprometido com novos paradigmas que orientam o pensar pedagógico;
  • é um observador constante e atento, mediando as ações e interagindo com os alunos..

No desenvolvimento de um projeto de trabalho todos os sujeitos se envolvem de forma ativa no processo de construção de conhecimentos e na resolução de situações-problemas.
Nesse sentido, o diálogo pedagógico é considerado como o principal eixo do projeto, o papel do professor é o de problematizador e facilitador da aprendizagem.
Nas palavras de Hernandez (1998, p. 93)


O papel do professor consistirá em organizar, com um critério de complexidade, as evidências das quais se reflita o aprendizado dos alunos, não como um ato de controle, ma sim de construção do conhecimento compartilhado.


Dessa forma, o professor precisa fazer a mediação (HOFFMA., 19...) entre o problema a ser investigado, a elaboração do projeto e a formação de grupos de trabalho.A função do professor é fazer o diálogo pedagógico com os alunos e proceder a mediação entre estes e o conhecimento.
Entendemos, dessa forma, que o professor é o profissional responsável por oferecer suporte teórico e prático a orientar os caminhos a serem percorridos pelo grupo no desenvolvimento dos projetos de trabalho, que possibilita mediações necessárias à construção do conhecimento, atua como interlocutor e animador (FRANCO, 2004).
No processo de mediação, o professor cria situações de aprendizagem que permitam a realização de regulações, que são momentos em que os alunos sistematizam os conhecimentos construídos e formalizam os conhecimentos colocados em ação.
Assim, professor e alunos vão coletivamente construindo estratégias de ação, considerando elementos ligados à individualidade de cada aluno, como seus limites e possibilidades. Nesse sentido, BEHRENS (2006 P.61 A 72) chama atenção para aspectos importantes: autonomia do aluno (em que o devem ser favorecidas ações como pesquisa, reflexão e elaboração de procedimentos);disciplina (relativa ao compromisso em relação a momentos como planejamento, assiduidade, etc); afetividade (proporcionando um clima de confiança) e abertura (em que são bem aceitas as críticas e sugestões relacionadas ao estágio, vistas como possibilidade de melhoria do mesmo).
Assim, os projetos de trabalho desenvolvidos consolidam-se como espaços colaborativos de aprendizagem coletiva e ressignificação das relações na Escola e na sociedade.
Três momentos são configurados no desenvolvimento de um projeto:
  1. Problematização: é o momento inicial, é o ponto de partida em que os alunos expressarão suas idéias, crenças, conhecimento sobre um tema extraído do interesse da realidade do aluno. O desenvolvimento posterior do projeto dependerá da problematização, pois é nessa fase que o professor detecta o que os alunos sabem, suas experiências e familiaridade com o tema e desafia-os a atuarem como sujeitos ativos de sua aprendizagem. Duas questões poderão nortear este momento: Que sei sobre esse tema? O que gostaria de saber? Muitas outras indagações relativas ao tema do projeto deverão ser levantadas a fim de facilitar a organização do projeto pelos professores e alunos.
b) Desenvolvimento: é o momento em que se elaboram as atividades de estudo, para responderem as inquietações suscitadas na problematização. Deverá ser iniciado com a pergunta: Como vamos desenvolver esse Projeto de Trabalho? Sua resposta, certamente, propiciará: a organização dos grupos e/ou duplas com distribuição de tarefas, a definição de estratégias diversificadas de estudos, horário de estudo e tempo de duração das atividades dentre outras providências. O professor, no processo de mediação da aprendizagem, deverá fazer intervenções e sempre problematizar os conteúdos com questões desafiadoras, assegurando o desenvolvimento do tema de estudo em articulação com as áreas do conhecimento postas nos Referenciais Curriculares Básicos da EJA. É imprescindível sua orientação para o desenvolvimento de atividades a serem realizadas dentro e fora da sala de aula (na biblioteca, em visitas e entrevistas a pessoas da comunidade, pesquisa em sindicatos, associações), para organização de feiras culturais ou exposições de artesanato, para criação de literatura de cordel, de modo que os alunos se deparem com as situações de ensino, pesquisa e aprendizagens necessárias para debater, confrontar experiências, conhecimentos, opiniões diversas, vivências, respondendo as indagações do tema e ressignificando seus conhecimentos. Cabe ainda ao professor a orientação na indicação de materiais bibliográficos (dicionários, revistas, livros, jornais, enciclopédias, filmes, fita K7 e outros) e na elaboração de relatórios parciais, orais e escritos sobre as ações realizadas.
  1. Síntese: corresponde à sistematização das ações ocorridas nos momentos anteriores; às observações da superação das convicções iniciais por outras mais complexas, ou seja, a superação das hipóteses iniciais e a construção de novas aprendizagens. É o momento em que os alunos e professores, juntos com os demais sujeitos da escola, podem apresentar as aprendizagens construídas através de cartazes, produção de materiais, registro pelo desenho, música ou paródia, peças teatrais, painel de notícias, feiras, elaboração de cordel etc.
Quando da execução do Projeto de Trabalho, constata-se que esses momentos não são etapas estanques, mas momentos inter-relacionados existindo em separado apenas para sua explicitação didática.
A sistemática de avaliação das ações educativas no Projeto de Trabalho dá-se a partir de dois processos: um de ordem interna, relacionado à assimilação do aluno frente aos temas trabalhados, ou seja, o que realiza cada aluno e no qual se recapitula o que foi feito e o que foi aprendido; outro de ordem externa, aplicado em situações diferentes, a partir das informações trabalhadas pelo professor, com o objetivo de realizar novas relações, comparações e abrir novas possibilidades de destaque para o tema e, para que se abram novas perspectivas de continuidade para projeto subsequentes, formando-se uma teia de significações dentro do processo.
Toda sistemática de avaliação é realizada através de um dossiê (Portfólio??) de sínteses dos aspectos tratados no projeto, levando-se em consideração que ele é um componente da avaliação formativa e o reflexo do conteúdo trabalhado e aprendido.
Portanto, trabalhar com Projetos de Trabalho pressupõe outra concepção de ensinar, aprender e do ato de planejar. O aluno assume um outro papel no processo de ensino-aprendizagem: deixa de ser submisso e passivo, constrói o conhecimento, desenvolvendo atividades, discutindo, buscando informações, enfim, conduzindo o trabalho na busca de respostas aos problemas levantados. A aprendizagem se desenvolve de forma contínua, participativa, crítica e criativa no processo de transformação da realidade. O professor, também, não apenas ensina, transmitindo conhecimentos, mas questiona, estimula, orienta e organiza, juntamente com o aluno, as aprendizagens realizadas.
A prática do desenvolvimento de projeto de trabalho é o caminho para aprendermos melhor sua teoria, metodologia e seus propósitos. Leia e reflita os depoimentos da professora Vera e da aluna Talita que vivenciaram o desenvolvimento de projetos de trabalho.
Com a palavra a professora Vera
Sempre fiquei muito preocupada com a sistematização de conteúdos e tinha medo que os projetos acabassem por prejudicar a qualidade do ensino. O trabalho com projetos me mostrou o contrário. A partir desse projeto, pude trabalhar vários conteúdos matemáticos de forma significativa.
Meus alunos compreenderam bem o conceito de escola bem como sua função social. Percebi que as áreas de conhecimento que aparecem no projeto são as necessárias para resolver as questões propostas pelo grupo; por essa razão, não há como determinar que em cada projeto precisam aparecer todas as áreas, ou que se deve ter um projeto para cada área de conhecimento. Essa definição vai depender da natureza do projeto.
O fato de trabalhar os conteúdos das áreas a partir de projetos não dispensa o professor de ter clareza acerca de suas intenções educativas, ou ter parâmetros para nortear suas escolhas. O que mudou, em meu modo de ver, foi a postura que passei a ter diante desses objetivos. Hoje, não enxergo mais objetivos como pontos terminais de um processo que, ao cabo de dois meses, todos deverão alcançar. Sei que são como um fio condutor de meu trabalho, dando parâmetros para a minha prática.
Percebi que, com os projetos, os alunos não entraram em contato com os conteúdos das áreas a partir de conceitos abstratos e de modo teórico. Isso fez com que a aprendizagem fosse mais significativa e duradoura.
Fonte: Diários. Projetos de Trabalho. – Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação a Distância, 1998,96p. Cadernos da TV Escola. PCN na Escola: nº3
Os alunos também vão percebendo mudanças em seu processo de aprendizagem quando passam a estudar a partir da perspectiva de Projetos de Trabalho. Vejamos dois depoimentos de alunos que trabalharam com Projetos de Trabalho.
A palavra da aluna Talita
A gente não tinha muito interesse para fazer aquilo que a gente queria. Agora não, agora é diferente. Os alunos, eles trazem aquilo que a gente tem em casa, a gente procura nos livros, procura nas casas das pessoas.
Fonte: Diários. Projetos de Trabalho. – Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação a Distância, 1998,96p. Cadernos da TV Escola. PCN na Escola: nº3
Finalizando nossa conversa sobre projetos de trabalho é importante ressaltar novamente que não há um método ou uma fórmula pronta para desenvolver projetos, mas sim uma concepção diferenciada do/a professor/a em relação ao ensinar e aprender. Esta será sempre uma relação de troca e de construções sociais interativas, nas quais todos são importantes parceiros e colaboradores.
E, assim, conhecemos um pouco sobre os Projetos de Trabalho como outro caminho para transformar o espaço da aula em um espaço pedagógico diferenciado, aberto a inovações e a contribuições de aprendizagens significativas para os alunos.
Texto elaborado para uso em sala de aula, de autoria das professoras: Maria de Jesus Oliveira e Maria Marina Dias Cavalcante.


BIBLIOGRAFIA DE APOIO:


HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,1998.
_______________________. VENTURA M. Organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed,1998
BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.



1 Texto elaborado para uso em sala de aula, de autoria das professoras: Maria de Jesus Oliveira e Maria Marina Dias Cavalcante.


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

TEXTO - EXPERIÊNCIA E COMPETÊNCIA NO ENSINO: PISTAS DE REFLEXÕES SOBRE A NATUREZA DO SABER-ENSINAR NA PERSPECTIVA DA ERGONOMIA DO TRABALHO DOCENTE, por Jacques Therrien e Francisco Loiola


JACQUES THERRIEN* 

 FRANCISCO ANTÔNIO LOIOLA**



RESUMO: O texto propõe-se a desenvolver uma reflexão sobre um campo de investigação emergente e necessário para a compreensão do significado da experiência no saber-ensinar: o trabalho docente segundo a perspectiva da ergonomia, inspirada na cognição situada. Contextualizando os novos contornos da política educacional brasileira no cenário das reformas educacionais, o estudo privilegia o debate sobre a formação docente e suas atuais tendências. A reflexão traz elementos conceituais e teórico-metodológicos destinados à investigação da natureza do saber-ensinar, focalizando o estudo da competência no ensino no contexto dos saberes na base da prática docente.
Palavras-chave: Formação docente, ergonomia, trabalho docente, cognição situada, competência, saberes docentes.


Introdução
    As últimas décadas do século XX foram marcadas, tanto nos países europeus como das Américas, por tempos de reformas educacionais carregadas de propostas inovadoras as mais diversas. O intenso desenvolvimento do universo de conhecimentos e sua divulgação, aliando o binômio poder e saber nas sociedades contemporâneas, gerou novos contextos para o campo educacional. A busca da primazia econômica, política e cultural no movimento de globalização encontra na educação os alicerces para enfrentar a alta competitividade da vida moderna. A racionalidade instrumental e técnica que caracterizou a modernidade se transforma, cedendo novos espaços para a razão comunicativa na leitura do real. Emerge a era da complexidade e suas exigências para a compreensão do mundo.
De imediato, recorre-se à educação como recurso imprescindível para assegurar as bases da nova sociedade da informação onde o trabalho não se limita mais à mera transformação instrumental da matéria, mas prioriza a ação sobre o humano e com o humano. De sobra, o professor é apresentado como sujeito chave para o sucesso ou o fracasso dos processos educacionais. Generaliza-se o questionamento sobre a formação dos formadores nos mais diversos níveis dos sistemas de ensino.
     É neste contexto que encontramos o movimento internacional de reformas educacionais, com propostas diversificadas que, contudo, privilegiam o debate sobre a formação e a profissionalização do professor. Cabe a este último uma importante contribuição para a preparação básica de cidadãos aptos para conviverem e trabalharem na complexidade da vida cotidiana.

Os novos contornos da política educacional brasileira
    No Brasil, o movimento geral de reformas educacionais encontrou forças impulsoras principalmente a partir das mobilizações em torno dos debates do Capítulo da Educação na Constituição de 1988, ampliando-se nos embates políticos da elaboração da LDB de 1996, Lei 9394/96, os quais permitiram confrontos conceituais os mais diversos. Um verdadeiro turbilhão de propostas e de reformas parciais marca atualmente o cenário educacional brasileiro, passando dos parâmetros e diretrizes curriculares para os diversos níveis de ensino até chegar a medidas de descentralização do sistema e participação coletiva, sem deixar de lado a busca de controle de resultados escolares, entre outros. A formulação de uma política de formação de professores para a educação básica, definida parcialmente através de um Decreto-presidencial (Decreto n° 3.276 de 6 de dezembro de 1999), denuncia a forte presença do Estado na direção das mais diversas medidas.
  Para os atuais dirigentes do Estado brasileiro, é fundamental flexibilizar e desregulamentar a política de formação de professores. Essa posição fica muito clara nas várias iniciativas levadas a efeito nos embates travados no âmbito do Conselho Nacional de Educação. Defende-se a tese de que a complexidade do ensino superior brasileiro e a crise pela qual ele está passando impedem a implementação de uma proposta concreta para a formação de um profissional específico, no caso o professor de educação básica. Assim, na interpretação da Sesu/MEC, existe um impasse que precisa ser superado: a fragilidade da área de educação na maioria das universidades, a departamentalização e a conseqüente segmentação das licenciaturas impedem uma verdadeira prioridade à formação de professores na perspectiva e no âmbito da política da educação básica
    Neste ponto, alguns elementos de convergência merecem destaque, considerando o novo papel assumido pelo Estado brasileiro no campo das políticas educacionais. Em primeiro lugar os textos oficiais deixam entender que os princípios que devem presidir, agora e no futuro, a organização, distribuição e avaliação da educação básica estão definidos com clareza. O conjunto de diretrizes e parâmetros curriculares é, para o governo atual, um currículo nacional definido por um Estado Central. Na nossa leitura, esse currículo nacional está assentado em uma lógica de duas vertentes: primeiro, uma lógica ligada à uma concepção de pedagogia por competências, e outra, uma lógica ligada à uma preocupação com a avaliação de resultados.1 Surge assim uma burocracia paralela, guiada pela cultura administrativa da eficiência, do menor custo, e das comparações internacionais.
    É impossível não ver aqui a manifestação de uma racionalidade técnica e administrativa própria de um funcionalismo que reduz o debate sobre as finalidades educativas à uma questão de indicadores e que reduz também o desenvolvimento cultural a resultados medidos em função de normas e de comparações internacionais. É impossível, igualmente, não ver aqui traços de uma cultura empresarial, da chamada empresa moderna, que pretende aliar descontração, flexibilidade e autonomia de suas unidades à submissão às regras da competição e do rendimento.
    Contudo, não se trata de uma estratégia baseada puramente em uma racionalidade técnica e administrativa. Há uma preocupação oficial, voltada para aproximar a escola da comunidade local, dos pais, de organismos comunitários, e de agentes econômicos, entre outros. Assim, a ideologia do associacionismo, do voluntarismo, da participação de todos, veicula uma nova porosidade que se instala nas fronteiras das instituições escolares e no contexto social. Trata-se, na verdade, de um movimento generalizado de reestruturação escolar, introduzindo a descentralização das decisões, a introdução de uma ideologia da participação de pais e, por extensão, da comunidade numa perspectiva de gestão ou fiscalização administrativa, a responsabilização da escola e, consequentemente, dos professores em relação aos resultados, a prescrição de um programa nacional comum centrado nos conteúdos de base e, finalmente, a emergência de novas orientações pedagógicas, suscitando debates e redefinindo práticas. No Brasil, o Estado não desapareceu de cena, ele continua sendo um ator que deve ser considerado como um poder regulador de primeiro plano.
    Em síntese, vivemos hoje um momento extremamente importante no campo educacional brasileiro. A introdução de reformas que querem consolidar a reorganização institucional e legal, através de iniciativas que visam concretizar o que a nova LDB prescreve, comporta mudanças decisivas, estando a formação do educador entre as mais importantes. Neste contexto, é preciso reconhecer que estes tempos de discussão, de embates, dificuldades de análise e até mesmo de constatação do desconhecimento dos avanços obtidos no campo específico da formação de educadores, são indicadores de uma nova fase e não devem obscurecer o fato extremamente positivo de novos e velhos temas ressurgirem através de novos conhecidos e reconhecidos autores e atores do campo educacional brasileiro. O debate e os embates teóricos travados no âmbito formal do Conselho Nacional de Educação, através das suas respectivas Câmaras de Ensino Superior e Básico, refletem em certa medida essa riqueza e, ao mesmo tempo, as contradições entre as diferentes concepções e projetos no campo da formação do educador.2
    Não se pode desprezar, neste palco de definição dos rumos da política educacional, a participação significativa da sociedade civil que atua no campo da educação e cuja contribuição apoiou-se em propostas fundadas no empenho coletivo da investigação e da produção científica.

A tendência atual de formação
    É interessante observar que o conceito chave em matéria de formação de professores, independentemente da natureza da orientação das políticas educacionais levadas a efeito nos países da América do Norte e na maioria das nações da Comunidade Européia, é a profissionalização do trabalho docente. A orientação que predomina, pelo menos através do que se pode captar da literatura especializada (Tardif, Lessard e Gauthier, 1998), diz essencialmente o seguinte: o profissional de ensino deverá ser formado sob a égide de saberes e competências reagrupados em referenciais (ou em uma base de conhecimento) tiradas da análise da prática pedagógica ou não.
No Brasil, a formação generalista que marcou a pedagogia dos anos de 1970 e parte dos anos de 1980 é posta em xeque pela pressão para o domínio de conteúdos específicos que caracteriza uma formação de cunho tendencialmente conteudista e/ou tecnicista. Da tensão entre estes dois movimentos começa a emergir a reestruturação de propostas curriculares de formação de professores que no momento tendem a ter características definidas. A formação para a área de educação infantil tem seu campo curricular próprio, incluindo disciplinas pedagógicas básicas e matérias específicas, além de abertura para a gestão educacional. Nas séries iniciais do ensino fundamental, o professor polivalente, além de formação pedagógica básica, deve dominar conteúdos disciplinares fundamentais e ainda deve ter formação para a gestão educacional ou para assessoria pedagógica. Para as séries terminais do ensino fundamental e no ensino médio, preconiza-se a atuação do professor especialista no domínio de conteúdos específicos. Recomenda-se que as práticas de ensino sejam concebidas, desde os semestres iniciais dos cursos, como uma forma de permear o processo de formação para a docência. O currículo privilegia a prática de pesquisa centrada no trabalho docente e no sistema educacional como disciplinamento metodológico na formação do sujeito reflexivo. As universidades se mobilizam na reforma dos cursos de licenciatura e no aperfeiçoamento dos mestres e doutores nas atividades de docência.
    Entre as mais diversas indagações que permeiam esta efervescência de proposições e intervenções, destacamos algumas mais próprias a este artigo que constituem matéria de nossas investigações em curso e que dão direção a definições conceituais ainda incompletas e a opções de abordagem teórico-metodológica a serem aprofundadas no estudo de campo dos fenômenos apontados. Situam-se, contudo, no âmbito de um paradigma central de investigação as questões: Qual é a natureza dos saberes que conferem a competência para o trabalho docente destes sujeitos sociais? Como identificar estes saberes? Como investigar o trabalho docente através do saber produzido em contexto real de prática?
    Privilegiar este olhar decorre tanto da tradição de produção científica do nosso Grupo de Pesquisa voltado para "o saber e a prática social do educador" como, sobretudo, de nossa análise de que a atual tendência teórico-metodológica da formação pedagógica dos professores requer estudos mais aprofundados e dirigidos para o trabalho docente situado em contextos reais da prática e que adotam abordagens teórico-metodológicas que permitem identificar e compreender as especificidades dos sujeitos dessa prática. Ao nosso ver, a tradição generalista da formação pedagógica incentivou uma prática de pesquisa e produção científica muito ampla e dispersa, deixando de lado olhares mais precisos e pontuais sobre os saberes (conhecimentos, hábitos, competências) efetivamente presentes no chão da sala de aula e nas intervenções educacionais desenvolvidas em outros espaços.

O trabalho docente: experiência, competência e o saber-ensinar
    Privilegiando o saber de experiência do trabalho docente como eixo fundante da formação do professor, nossos estudos (Therrien, 1993a, 1993b, 1996, 1997a, 1997b, 1998) têm aprofundado o conhecimento sobre a natureza desse saber e sua função na ação docente. Em linhas gerais, o saber de experiência foi abordado teoricamente à luz da práxis (Vasquez, 1977; Gramsci, 1978), segundo a ótica socioepistemológica (Tardif, Lessard e Lahaye, 1991), na perspectiva da ação comunicativa (Habermas, 1997), como experiência social (Dubet, 1994), numa compreensão de sujeito reflexivo (Schön, 1987, 1994), além de ser confrontado aos pressupostos do professor-pesquisador (Perrenoud, 1995, 1997). Focalizar a prática social do professor, nessa perspectiva, permitiu chegar a algumas conclusões de interesse, entre elas a de que grande parte dos saberes docentes são fundados na experiência, integrados a uma cultura pessoal e passíveis de formalização.
    Prosseguindo as investigações sobre o trabalho docente, particularmente na perspectiva da gestão pedagógica da sala de aula no contexto da cultura docente brasileira, diversas dimensões da complexidade desta prática profissional e dos saberes que a fundamentam foram identificadas (Therrien & Damasceno, 2000).3 À luz de abordagens que o concebem como prática situada, contextualizada, o trabalho docente revela-se fruto de processo que envolve múltiplos saberes oriundos da formação, da área disciplinar, do currículo, da experiência, da prática social, e da cultura, entre outros. Trata-se de uma atividade regida por uma racionalidade prática que se apóia em valores, em teorias, em experiências e em elementos contextuais para justificar as tomadas de decisão na gestão da sala de aula (Therrien, J. & Therrien, A., 2000). Ademais, como ato pedagógico, o trabalho docente incorpora igualmente conhecimentos desenvolvidos por diferentes áreas como a psicologia, a sociologia, a filosofia, a antropologia e a história, dentre outras. Esta compreensão serviu de alicerce na construção de uma concepção da cultura docente em ação (Therrien & Damasceno, 2000).
    Mais recentemente, nossos estudos em torno da dimensão da experiência no trabalho docente fizeram surgir novas indagações, entre as quais a importância e a necessidade da investigação sobre as características, a natureza e a origem da prática do professor considerado competente. Como observa Tardif (2000), para além do estudo dos saberes utilizados pelos professores, que se limitaram sobretudo a compreender a natureza destes saberes, suas origens e os modos de integração destes saberes ao trabalho docente, faz-se necessário abordar a questão da competência profissional dos professores, ou seja, a natureza do "saber ensinar".

A pesquisa sobre o saber-ensinar: ergonomia e cognição situada
    Nossos estudos atuais sobre o saber-ensinar procuram apoiar-se nos pressupostos teóricos e metodológicos da ergonomia do trabalho docente e na cognição situada, segundo a antropologia cognitiva (Montmollin, 1996; Lave, 1988; Suchmam, 1987; Theureau, 1992).
    No âmbito dos especialistas da Psicologia do Trabalho e da Ergonomia, estes temas em geral têm permanecido à margem dos seus interesses. Todavia, alguns trabalhos indicam que este quadro está mudando (Amalberti et al., 1991; Vidal, 1994; Durand, 1996; Tardif et al., 1998; Tardif, 1999; Durand, 1999). Mais recentemente, o trabalho docente passa a ser abordado do ponto de vista da ergonomia. Ele é visto como uma atividade ligada à concepção e que solicita essencialmente (mas não exclusivamente) a execução de tarefas de natureza cognitiva e simbólica. Se a interação professor/aluno é de natureza epistemológica e didática, com efeito ela é também fundamentalmente uma relação de natureza psicossocial. A atividade dos professores é profundamente marcada por exigências próprias e resultantes da interação social, da vida em grupo (Monteil, 1990) e do trabalho coletivo (Leplat, 1994).
    No Aurélio encontramos uma definição de ergonomia que menciona apenas o seu conteúdo etimológico, sem referenciar os critérios e finalidades da disciplina: Ergonomia, segundo o mesmo, é citada como um conjunto de métodos e técnicas empregadas para projetar postos e situações de trabalho. Esta definição indica indiretamente dois componentes básicos: o trabalho e as pessoas. De fato, a ergonomia se constitui desde o início numa das disciplinas que estuda as pessoas no trabalho.4 Segundo a definição de Vidal (1994), "a Ergonomia é a disciplina que se preocupa com a reestruturação do trabalho, buscando conciliar a atividade produtiva – ditame da subsistência – à vida – ditame da sobrevivência".
    Ergonomia é a "análise do trabalho": a descrição e a explicação da atividade humana, no trabalho, ou seja, na atividade concreta, no próprio terreno (Amalberti et al., 1991, p. 10). Trata-se de uma análise que se desenvolve levando em conta uma grande variedade de variáveis dinâmicas de natureza física, social, institucional e política.
  A ergonomia, aplicada aos estudos no campo da educação, interessa-se pela investigação da dinâmica que considera o sujeito, a atividade e o contexto como um todo. De modo mais específico, trata-se de um ponto de vista centrado no desenvolvimento dos conhecimentos em contexto.
    Nessa perspectiva, o ensino é uma "situação situada", ou seja, uma atividade complexa cujo objetivo é a adaptação a uma situação. Consequentemente, não se pode descrever, analisar, compreender esta atividade sem descrever, analisar e compreender a situação. Portanto, é conveniente considerar simultaneamente os limites da situação de ensino e as características dessa atividade profissional, tendo em vista a análise do saber-ensinar.
Os dois pólos – atividade e situação – são inseparáveis. As regras da situação impõem uma organização à atividade dos docentes que, ao mesmo tempo, selecionam e definem as regras às quais eles respondem. Este duplo controle do sujeito (ator) sobre seu contexto e do contexto sobre a atividade do ator é polimorfo (assume diversas formas) e complexo. Trata-se de uma interação regulada segundo diversas modalidades, das mais diretas (quando o contexto provoca e controla diretamente alguns componentes da atividade do ensino), às mais indiretas (quando a ação resulta de uma deliberação mental).
    Esta interação pode corresponder a uma adaptação (ou seja, é no interior da ação que este duplo movimento de controle se opera), ou a uma diferenciação (uma atividade antecipadora de um lado, e retroativa de outro lado, que permite um enquadramento antecipador e metacognitivo da mesma). A análise ergonômica se esforça para levar em conta estas duas vertentes e integrá-las em um quadro analítico geral.
É importante mencionar que tal enfoque teórico se aproxima da perspectiva "ecológica " (Doyle, 1977), que propõe, segundo um ponto de vista naturalista, estudar o ensino como um sistema de interação em um contexto singular. Estas pesquisas permitem uma explicação da vida em classe e do desenvolvimento das ações que se produzem no interior da classe, em termos de intenções adaptativas no contexto da classe.
Certos trabalhos sobre este tema (por exemplo, Doyle, 1986; Durand, 1996), mostraram que o caráter global e indeterminado da intervenção pedagógica em ambiente escolar torna os professores aptos a compor com o imprevisível, levando-os a desenvolver uma grande capacidade de negociação, de ajustamento, de improvisação. A pesquisa sobre como o professor estrutura seu saber e suas intervenções em sala de aula, utilizando o quadro teórico da ergonomia, oferece uma perspectiva de investigação que nos possibilita conhecer a didática, e consequentemente o ensino, do ponto de vista do trabalho docente em ambiente escolar.
    Como todo trabalho humano, o ensino é um processo de trabalho constituído de diferentes componentes que podem ser isolados abstratamente para fins de análise. Esses componentes são o objetivo do trabalho, o objeto do trabalho, as técnicas e os saberes dos trabalhadores, o produto do trabalho e, finalmente, os próprios trabalhadores e seu papel no processo de trabalho. A análise desses componentes objetiva evidenciar seus impactos sobre as práticas pedagógicas.
    Adota-se como postulado de base que a cognição ou a ação são incompreensíveis fora de um contexto e que, portanto, devem ser estudadas in situ e teorizadas em relação à situação. Insiste-se na dimensão operativa da cognição que é um pensamento em ato. Pretende-se, a partir de um enfoque ergonômico que considera a dinâmica sujeito/tarefa (ação)/contexto, validar um quadro heurístico de análise do trabalho docente, das ações dos professores ditos experientes e dos eventos em classe. Nesta perspectiva, as investigações colocam em evidência o papel das dimensões cultural, histórica e contextual na aquisição de saberes, mecanismos e processos que caracterizam o trabalho docente no contexto real da prática.
Uma síntese dos traços característicos da atividade do ensino, considerando a leitura que Marc Durand (1996) adota para propor um quadro analítico a priori segundo a ergonomia cognitiva, nos leva a considerar que o ensino é uma atividade dirigida, a longo prazo, complexa e articulada e que se reveste de uma dimensão epistemológica central: é através de ações simbólicas que ensinamos, e não através de ações sensório-motoras. Ademais, tendo em vista a dificuldade de avaliar seus próprios objetivos, o ensino procura constantemente uma regulação entre o que é almejado e o que é conseguido, processo igualmente difícil de ser avaliado. Por outro lado, as condições através das quais os professores intervêm para atingir seus objetivos: incerteza elevada, simultaneidade de eventos, pluralidade de elementos em interação, dinamismo, diversidade e pluridimensionalidade, impõem uma atividade dificilmente previsível. Tudo ou quase tudo é possível, mas as previsões necessárias para um planejamento necessário são pouco confiáveis. Na verdade, como salienta Durand (1996) a atividade do ensino requer atenção a tudo, tendo em vista o necessário ajuste considerando o aparecimento de eventos não previstos. Isso se passa através de uma temporalidade às vezes linear, com um vasto horizonte temporal e cíclico, baseado na repetição dos contatos com os alunos.
    Outro aspecto importante a considerar na caracterização do ensino enquanto atividade é o nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, assim como o caráter obrigatório da participação destes na escola. Esses elementos obrigam freqüentemente os professores a realizarem atividades antes do processo de instrução propriamente dito, visando a implantação de condições mínimas de trabalho, ou seja, obter o engajamento dos alunos e ajustar os procedimentos pedagógicos às capacidades simbólicas e cognitivas dos mesmos. Na verdade, o caráter pouco ou mesmo não definido dos procedimentos pedagógico-didáticos contribui para dar a esta atividade características de concepção, resolução e delimitação de problemas, e mesmo de improvisação (Tardif e Lessard, 2000).
    À luz do quadro de análise apresentado acima, o trabalho docente em contexto escolar pode ser considerado como uma tarefa muito particular e complexa, o que confirma as comparações com outras tarefas profissionais (Roman, 1994). A tarefa dos professores consiste em um sutil equilíbrio entre regras e autonomia. Este equilíbrio define de maneira explícita a margem de liberdade (e de angústia) pedagógica e a relação entre os componentes de concepção e execução. Como explica Durand (1996, p. 62), "a tarefa do ensino se caracteriza por um espetacular contraste entre uma ampla liberdade pedagógica e regras administrativas rigorosas."
    Em termos ergonômicos, mesmo se as regras se referem em grande medida à forma (as modalidades de comunicação e de troca no interior da classe), ao funcionamento (tempo, espaço, grupamento de alunos...) e ao currículo (objetivos, conteúdos...), podemos considerar que, se de um lado os objetivos e as condições para atingir estes objetivos são claramente especificadas, de outro, as operações e os procedimentos didáticos não constituem um objeto particular com uma ou várias definições particulares.
    Esta síntese analítica contribui para reforçar a hipótese de que efetivamente o estudo, e conseqüentemente a definição do que vem a ser saber-ensinar, enfrenta várias dificuldades decorrentes, dentre outros, da ambigüidade do trabalho docente (Durand, 1996). Com efeito, a natureza humana do objeto do trabalho docente, assim como o caráter freqüentemente imponderável dos resultados do mesmo, dificultam a discussão e a investigação da natureza do saber ensinar e das competências do professor. Como observam Tardif et al. (1999), essa dificuldade resulta não apenas da presença de conceitos mal definidos, de problemas inerentes à noção de competência em geral, mas sobretudo da natureza do ensino enquanto atividade interativa.

Revisitando o conceito de competência
    A noção de competência voltou a se fazer presente no mercado das idéias pedagógicas e está orientando ou definindo visões ou até mesmo políticas educacionais. Em vários países, tende-se igualmente a orientar o currículo para a construção de competências desde a escola fundamental (Perrenoud, 2000, p. 14). Se olharmos atentamente, os Parâmetros assim como as diretrizes curriculares que começam a circular no Brasil propõem, a nosso ver, uma pedagogia das competências. Se nos anos de 1970 e parte da década de 1980 ficamos à mercê da pedagogia dos objetivos (tecnicista), nos anos de 1990 temos o surgimento da pedagogia das competências.
    O que é competência? O que é ser competente? O que definiria o professor competente? O que significa competência profissional docente? Vários modelos foram adotados na investigação do fenômeno da competência manifestada através da prática do professor: na perspectiva das pesquisas inspiradas no paradigma "processo-produto" (Leinhardt e Grenno, 1984; Leinhardt e Smith, 1985);5 a partir de uma revisão sistemática de critérios de competência (Tochon, 1991a, 1993); utilizando um posicionamento epistemológico inspirado em estudos cognitivistas (Tom e Valli, 1990); abordando o conhecimento prático a partir de um enfoque não proposicional (Schön, 1983); e, finalmente, enfocando o conhecimento prático pessoal (Elbaz, 1983).
   Como observa Perrenoud (2000), o conceito de competência, da mesma forma que os saberes de experiência e os saberes de ação, suscita há alguns anos inúmeros trabalhos. As definições a propósito da noção de competência podem representar perspectivas teóricas divergentes. Trata-se de um conceito muito requisitado e discutido.
    Para o mesmo autor, a competência é a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação. Essa definição apóia-se em quatro aspectos: a) as competências não são elas mesmas saberes ou atitudes, mas mobilizam, integram e orquestram tais recursos; b) essa mobilização só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia com outras, já encontradas; c) o exercício da competência passa por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas de pensamento que permitem determinar (mais ou menos consciente e rapidamente) e realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente adaptada à situação; d) as competências profissionais constróem-se, em formação, mas também ao sabor da navegação diária de um professor, de uma situação de trabalho a outra (Perrenoud, 2000, p. 15).
    Tardif (2000, no prelo), inspirando-se na ergonomia aplicada ao trabalho docente, entende que competências são modalidades práticas de utilização de conhecimentos aplicados em situações apropriadas, através de comportamentos e de atitudes típicas em relação às finalidades da tarefa. "Ser competente é ser capaz de utilizar e de aplicar procedimentos práticos apropriados em uma situação de trabalho concreta" (p. 4-5). A partir destas considerações, pode-se dizer que o saber-ensinar, ou seja, o saber-fazer específico do trabalho docente, não pode ser definido abstratamente, mas unicamente em função da tarefa a realizar, articulada às suas respectivas finalidades.

Cognição situada e saber prático contextualizado
    Outro pressuposto que orienta nossos estudos atuais é o caráter "situado" da cognição, ou seja, a ligação indissociável entre o produto de uma atividade, a cultura e o contexto no interior da qual ela se exerce. Desse ponto de vista, a aquisição dos conhecimentos, a aquisição dos saberes, não pode ser considerada exclusivamente como um fenômeno mental e individual, mas como um fenômeno constituído de relações no interior de contextos precisos (Chaiklin e Lave, 1993, Wenger, 1990). Este ângulo de análise considera que a aquisição de saberes, o pensamento e o conhecimento são relações entre as pessoas engajadas em uma atividade no e com um mundo social e culturalmente estruturado (Lave, 1991). Em síntese, o contexto não deve ser visto como um recipiente vazio dentro do qual se inseriria o agir humano, mas como um conteúdo a partir do qual o agir humano tomaria forma. Trata-se de abordar a cultura e o contexto como conteúdos do agir humano e não como continentes desse.
    No interior deste enfoque a concepção de aprendizagem e, conseqüentemente, do ensino, é composta de duas dimensões distintas, mas indissociáveis, ou seja, o "contexto global" (Arena) e o "contexto local" (Setting) (Lave, 1991). Deste ponto de vista, o saber ou o saber-fazer contextualizado ou a aprendizagem contextualizada da prática educativa, por exemplo, se definem no interior de um campo complexo de inter-relações e, mais precisamente, no interior de um processo social de participação em dois níveis: inicialmente no plano local, no interior mesmo da experiência do desenrolar das atividades em sala de aula, e simultaneamente no plano global, ou seja, no âmbito dos processos de produção e reprodução da comunidade de práticas comuns. Em síntese, o saber-fazer contextualizado se elabora a partir das características do contexto no interior do qual o professor ou a professora evoluem. Essas características da cultura cotidiana da sala de aula e da cultura da escola, tomadas no sentido amplo da palavra, atuam como elementos estruturantes de sua ação ou de sua prática. Adotando-se o ponto de vista da cognição situada, pode-se avançar na hipótese de que esses elementos estruturantes constituem parte integrante dos instrumentos conceituais e práticos de que o professor ou a professora dispõem.
    A noção de ação (ou cognição) situada representa um dos raros casos onde uma categoria das ciências sociais penetra no campo das ciências cognitivas, embora ainda com algumas ambigüidades mais ou menos evidentes. Longe de ser ligada diretamente ao problema da cognição, a noção de ação situada se presta, de início, a contestar a legitimidade da perspectiva cognitiva da ação. Assim, a ação situada transforma-se em cognição situada quando ela se propõe a tornar explícito os suportes informacionais que sustentam a ação no seu ambiente imediato. A cognição é considerada ao serviço da ação.
    O saber prático contextualizado é outra categoria operacional que compõe nosso quadro teórico. Trata-se de um saber que o profissional desenvolve na ação através de questionamentos que este se faz diante de situações problemáticas com as quais ele deverá compor. Schön (1996) define esse tipo de saber como um repertório de ações e de compreensões que se enriquecem com a experiência prática. Esse saber corresponde à complexidade das inter-relações entre o contexto social, cultural e o simbólico, em que os profissionais são levados a estabelecer um processo constante de negociação e ajustamento de suas próprias concepções6 e outras provenientes do seu contexto.7

Conclusões
    Descrevemos acima, de maneira sucinta, um campo de investigação que se descortina sobre o trabalho docente segundo a perspectiva da ergonomia, inspirada na cognição situada. Diante desse território ainda pouco explorado, tentamos, a partir de uma breve retrospectiva da trajetória de estudos e investigações do grupo de pesquisa sobre Saber e Prática Social do Educador, apresentar algumas definições conceituais ainda incompletas e opções de abordagem teórico-metodológica a serem aprofundadas.
    Essas são perspectivas de trabalho em pleno desenvolvimento, em que a transposição de uma abordagem situada para a reflexão sobre a natureza do saber-ensinar possibilitou a realização de uma primeira triagem dos elementos constitutivos de categorias operacionais e analíticas passíveis de serem adotadas na investigação da função docente em contexto real de prática.
Recebido para publicação em 16 de janeiro de 2001.

Notas
1. A implementação de um sistema nacional de avaliação através do Saeb, do Enem e do Provão constitui o primeiro passo para a institucionalização de um Public Charter Schools.
2. A título de exemplo, vale salientar as divergências relativas à criação dos Institutos Superiores de Educação e do Curso Normal Superior e à extinção do Curso de Pedagogia.
3. Complementam, nos seus enfoques, outras investigações desenvolvidas por diversos autores que privilegiam esta problemática, entre os quais: Tardif, M., 1991, 1993, 1998; Gauthier & Tardif,1993; Gauthier, C. et al., 1998; Therrien, A. S., 1998.
4. Segundo Meirelles (1991), há indícios de preocupações com aspectos ergonômicos desde o paleolítico superior. Por exemplo, ao visitarmos um museu arqueológico, podemos observar instrumentos primitivos onde a preocupação de adaptação de pedras e dos toscos instrumentos e utensílios ao manuseio é visível. Os utensílios de trabalho foram paulatinamente se especializando ao uso e manuseio e se miniaturizando, o que demonstra a intrínseca necessidade da adequação de objetos ao uso produtivo e, não por acaso, a partir de um determinado estágio (uma forma especializada e um tamanho condizente a um uso e manuseio mais confortável e facilitado), a população da Terra experimenta um considerável aumento.
5. Para uma análise aprofundada deste modelo, consultar Gauthier et al., 1998.
6. Vale salientar que essas concepções não são originadas de um "vazio profissional"; na verdade, são enraizadas a partir da história de vida dos sujeitos, do seu processo de formação profissional, da sua inserção dentro de um contexto social determinado e cultural. Assim, suas concepções e sua prática são resultados da compreensão de todo esse conjunto de fatores que irão dirigir a sua ação.
7. Recentemente, um grande número de pesquisas tem se preocupado com essa noção do saber construído na ação e na experiência mesma de uma prática social ou profissional determinada. No domínio específico do ensino e da formação, as maiores preocupações têm sido com o conceito do "saber prático" ou do "saber de experiência", que poderiam ser definidos globalmente como um saber que os professores explicitam quando são colocados diante de uma situação que exige um retorno (reflexão) sobre a sua própria ação, e o sentido ou a justificativa que eles dão a essas situações, num contexto específico de aprendizagem.


TEACHING EXPERIENCE AND COMPETENCE: REFLECTING OVER THE NATURE OF KNOWLEDGE OF TEACHING IN THE ERGONOMICS PERSPECTIVE OF TEACHER'S WORK
ABSTRACT: The aim of this paper is to reflect over an emergent field of research, one which is necessary in order to understand the meaning of experience related to knowledge of teaching in teacher's work, according to the perspective of ergonomic inspired by a situated learning process. In the context of the new format of the Brazilian educational policies in the field of educational reforms, this study highlights the debate over teacher education and its recent tendencies. This brings conceptual and methodological issues aimed at investigating the nature of knowledge of teaching, focusing on teaching competences in the context of knowledge in the basis of this practice.
Key words: Teacher education, ergonomics, teacher's work, situated learning, teaching competences, teacher's knowledge.


Referências bibliográficas
AMALBERTI, R., MONTMOLLIN, M. de e THEREAU, J. (eds.). Modèles en analyse du travail. Liége: Mardag, 1991.        [ Links ]
DOYLE, W. Learning the classroom environment: An ecological analysis. Journal of Teacher Education 28, 1977, p. 51-55.        [ Links ]
_______. Classroom organization and management. In: M.C. Wittrock (dir.), Handbook of research on teaching. New York: Macmillan, 1986.        [ Links ]
DUBET, F. Sociologie de l'expérience. Paris: Éditions du Seuil, 1994.        [ Links ]
DURAND, M. L'enseignement en milieu scolaire. Paris: Puf, 1996.        [ Links ]
DURAND, M. e ARZEL, G. "Commande" et "autonomie" dans la conception des apprentissages scolaires, de l'enseignement et de la formation des enseignants. Belgique: Formation des maîtres et réformes de l'école, 1999 (no prelo).        [ Links ]
ELBAZ, F. Teacher thinking: A study of pratical knowledge. London: Croon Heln, 1983.        [ Links ]
GAUTHIER, C. e TARDIF, M. Le savoir des enseignants: Unité et diversité. Montréal: Les Éditions Logiques, 1993. 235p.        [ Links ]
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: Pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Ed. Unijuí, 1998. 457 p.        [ Links ]
GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.        [ Links ]
HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa: Complementos y estudios previos. Madrid: Cátedra, 1997. 507p.        [ Links ]
LAVE, J. e WENGER, E. Situated learning: Legitimate peripheral participation. New York: Cambridge University Press, 1991.        [ Links ]
LAVE, J. Cognition in practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.        [ Links ]
_______. Acquisition des savoirs et pratique de groupe. Sociologie et Sociétés, nº 1, vol. 13, Les Presses de l'Université de Montréal, 1991, p. 145-162.        [ Links ]
LAVE, J. e CHAIKLIN, S. Understanding practice: Perspective on activity and context. Cambridge: Cambridge University Press, 1993, p. 3-32.        [ Links ]
LEINHARDT G. e SMITH, D.A. Expertise in mathematics instruction: Subject matter knowledge. Journal of Educational Psychology, 1985, p. 247-271.        [ Links ]
LEINHARDT, G. e GENNO, J.G. The cognitive skill of teaching. Journal of Educational Psychology 78, 1984, p. 75-95.        [ Links ]
LEPLAT, J. Les facteurs déterminant la charge de travail. Le Travail Humain, 40, 2, 1997, p. 195-202.        [ Links ]
MONTEIL, J.M. Eduquer et former. Grenoble: Pug, 1990.        [ Links ]
MONTMOLIN, M. L'intelligence de la tâche. Berne: Peter Lang, 1986.        [ Links ]
PERRENOUD, P. Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Lisboa: Porto Editora, 1995. 238p.        [ Links ]
_______. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação – Perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1997.        [ Links ]
_______. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.        [ Links ]
SCHÖN, D.A. Le praticien réflexif. Montréal: Les Éditions Logiques, 1994.        [ Links ]
_______. Educating the reflective practitioner. San Francisco: Jossey-Bass Pub., 1987. 355p.        [ Links ]
SHULMAN, L.S. Knowledge and teaching: Foundation for a new reform. Harvard Educational Review, 51, 1987, p. 1-22.        [ Links ]
TARDIF, M. Savoirs et expérience chez les enseignants de métier: Quelques pistes et jalons concernant la nature des savoirs d'expérience. In: HENSLER, H. (org.) La recherche en formation des maîtres. Québec, Université de Sherbrooke: Éditions du CRP, 1993.        [ Links ]
TARDIF, M., LESSARD, C. Os professores face ao saber: Esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Educaçäo nº4, Porto Alegre: Pannônica, 1991.        [ Links ]
TARDIF, M.; LESSARD, C. e GAUTHIER, C. Formation des maîtres et contextes sociaux: Perspectives internationales. Paris: Presses universitaires de France. 1998.        [ Links ]
TARDIF, M., LOIOLA, F.A. e LOIOLA, J. O trabalho docente e a pedagogia: Interações humanas, tecnologias e dilemas. 1999 (no prelo).        [ Links ]
THERRIEN, A.S. Trabalho docente: Uma incursão no imaginário social brasileiro. São Paulo: Educ, 1998.        [ Links ]
THERRIEN, J. A natureza reflexiva da prática docente: Elementos da identidade profissional e do saber da experiência docente. Educação em Debate nº 33, Ed. UFC, 1997b, p. 5-10.        [ Links ]
_______. A professora rural: O saber de sua prática social na esfera da construção social da escola no campo. In: THERRIEN, J. e DAMASCENO, M.N. Educação e escola no campoCampinas: Papirus, 1993.        [ Links ]
_______. Expérience professionnelle et savoir enseignant: La formation des maîtres mise en question. In: TARDIF. M., LESSARD, C. e GAUTHIER, C. Formation des maîtres et contextes sociaux – Perspectives internationnales. Paris: Presses Universitaires de France, 1998, p. 231-260.        [ Links ]
_______. O saber social da prática docente. Educação & Sociedade nº 46, Campinas: Cedes, 1993, p. 408-418.        [ Links ]
_______. Saber de experiência, identidade e competência profissional: Como os docentes produzem sua profissão. Contexto & Educação nº 48, vol. 12, Unijuí: Ed. Unijuí, 1997a, p. 7-36.        [ Links ]
_______. Trabalho e saber: A interação no contexto da pós-modernidade. In: MARKERT, W. (org.). Trabalho, qualificação e politecniaCampinas: Papirus, 1996, p. 53-70.        [ Links ]
THERRIEN, J. e DAMASCENO, M.N. Artesões de um outro ofício: Múltiplos saberes e práticas no cotidiano escolar. São Paulo: Annablume, 2000.        [ Links ]
THERRIEN, J. e THERRIEN, A. A racionalidade prática dos saberes da gestão pedagógica da sala de aula. In: CANDAU, V.M. (org.). Cultura, linguagem e subjetividade no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.        [ Links ]
THEUREAU, J. Le cours d'action: Analyse sémio-logique. Essai d'une anthropologie cognitive située. Berne: Peter Lang, 1992.        [ Links ]
TOCHON, F.V. L'enseignant expert. Paris: Natham, 1993.        [ Links ]
_______. Les critères d'expertise dans la recherche sur les enseignants. Mesure et Évaluation, 14 (2), 1991a, p. 57-81.        [ Links ]
TOM, A.R. e VALLI, L. Professional knowledge for teachers. In: R.W. HOUSTON, R.W. (ed.). Handbook of research on teacher education. New York: Macmilan, 1990.        [ Links ]
VIDAL, M.C.R. Os paradigmas em ergonomia. Uma epistemologia da insatisfação ou uma disciplina para a ação? Rio de Janeiro: Coppe/UFRJ, 1994.        [ Links ]
SUCHMAN, L. Plans and situated actions. The problem of human machine communication. New York: Cambridge University Press, 1987.        [ Links ]
WENGER, E. Toward a theory of cultural transparency: Elements of a social discourse of the visible and the invisible. Technical Report, 90-41, Department of Information and Computer Science, University of California at Irvine, 1990.        [ Links ]


* Professor Titular da Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará. E-mailjacques@ufc.br

** Professor da Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará. E-mailfaloiola@ufc.br

Fonte:
Rev. Educ. Soc. vol.22 no.74 Campinas Apr. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302001000100009. Acesso em 10 de janeiro de 2017.